ECOS

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Chittorgarh-India

quarta-feira, 25 de maio de 2011

319> A VISITA


Quando sinto um abraço eólico
Suave no corpo
Profundo no espírito
O frio percorre meus poros
Vejo teus singulares sinais
Soprando o medo para longe
Por breves segundos
O tempo passa lento
Uma eternidade

Do alto das catedrais via-se a trilha
A deliciosa ansiedade da chegada
Novamente o brilho na aura
Tudo vibra e dança pela vinda
Que se evaporem as falanges de gárgulas
Com suas redes de energia e pesadelos
Todo o passado já foi pago

Quem vem cavalgando os espaços
Quem chegará movendo as cruzes
Visões vindas da infância
Decisões vindas de bem antes
Clareando a sombra do esquecimento

Nunca realmente vi ou ouvi
Tudo foi sempre sentido
Sempre foi tudo inesquecível
Era assim que tinha de ser


Recife,25 de Maio de 2011

terça-feira, 24 de maio de 2011

318> ANFITEATRO DAS VIDAS SECAS


Promessas são sempre escolhas
Antes do sol se por estarás só
Disse o vento para a folha velha
Planando nesses campos mágicos
Acima do solo que te sustentou
Neste breve momento
Vê-se tua sombra
Tua alma
E todos os luminosos verões
E no ocaso do teu sorriso
Serei a ultima testemunha
Do que és e do que foste
Pois sou irmão do tempo

Despertei em meio à ventania
Com a firmeza necessária a vida
Neguei o que tinha que ser negado
Aceitei o que tinha de ser aceito
Não sou o que fui e não serei o que sou
Pois tantos outros se perderam
Condenados no mais implacável tribunal
A consciência era o único jurado
O remorso a incontestável prova

Caminho para fora do anfiteatro
Disseram que saber é diferente de ver
Mas ainda percebo a primeira execução
Em atos e cenas deslocadas
Um palco vazio e silencioso
Sem o grande mestre da chuva
Delicado como as singelas flores
De uma primavera que não verei
Algum brilho dos vitrais
Cruza a bifurcação do caminho
Olho a guilhotina fixamente
Antes de partir para o norte
A memória que não sai do meu mundo
A ultima visão daquele ser
Um cantor solitário
Um poeta sem amigos
Assim como fui um dia


Recife,24 de Maio de 2011
Link imagem
Também postado na Fabrica de letras

quinta-feira, 19 de maio de 2011

317>ANASTACIA E O PECADO DOS PAIS


Sentia em algumas noites
Às vezes no olhar de um estranho
Lembro da chama das velas
Pequenos postes luminosos nas estradas

O esporádico se tornou freqüente
O que nunca se foi novamente retorna
A tela celeste sintoniza
Uma madrugada de pressões oscilantes
O fogo se faz presente
Nas mesmas palavras
Nas mesmas palavras

Vejo os passos do inevitável
Conselhos sempre presentes
Refletem a ausência de retidão
As belezas do mundo
A morte deste mesmo mundo
Brincando nas esquinas azuis
Coisa para se lembrar
Promessas
Pássaros voando ao longe
Anastácia esperava na chuva
Criaturas da noite sem nada a dizer
Sem esperança

Eu vim na terra por você
Minha criança
Abençoar suas lagrimas
Amparar tua involuntária queda

Vejo tantas outras perdidas
Mistificadas pelo poder da juventude
A carne ainda fresca
Comprando sonhos alheios
Vendendo alimento aos instintos
O terrível preço do abandono
No covil de lobos famintos

Estarei à espera daqueles a quem te confiei
Estáticos no canto dos cantos
A única luz refletida no umbral
Um punhal cravado no inferno
Afinal lei é lei
E vida é vida


Recife, 18 de Maio de 2011
Também postado na Fabrica de Letras

quarta-feira, 18 de maio de 2011

316> A NOITE VESTIDA DE SONHOS


Verde, úmido e desfocado
Passado ou outro lugar
Vozes femininas
Risos

Um registro de impressões
Os ares da infância lúcida
Harpa e amigos invisíveis
Ruas secundarias em vilarejos
Orvalho, nevoa e neblina
Harmonia e alegria
Saudade

Capturas acionadas pelo som
Vibrações, sempre vibrações
O luar vestido de pura seda
Derramada na noite dos sentidos
Estampada de estrelas
Tudo se enche de mágica

Passagens ocultas na areia
Passos se aproximam
Uma nascente de água cristalina
Protege um ninho de luz
Raios atravessam minhas mãos
Um doce assovio sereniza o ar
Alimenta meus sonhos
Em todos atos da minha existência

Recife,17 de Maio de 2011

sexta-feira, 13 de maio de 2011

315> ANO 22011


Um horizonte de linhas imprecisas
Na medida exata de uma falha visão
Um anoitecer silencioso e solitário
Sob um segredo não revelado
Escorpião surge nas alturas
Antares e suas discípulas

Como se pode quantificar o transitório?
Como não se pode amar o aleatório?
Assim se escreve o que não se diz
E se sente o que não se escreve
Um automatismo quase fisiológico

Queria ver o mundo após vinte milênios
Os passos que a evolução seguiu
Todo o silencio da maturidade terrestre
O que sobrou e o que partiu
Das falhas humanas o que restou
E quem no fim ainda sorriu

Um sino anuncia a caravana
Profundo respeito se irradia
Ide e espalhai a semente
Que a terra presenteie com a vida
Como um dia também foi presenteada

Quantas idas e vindas contabilizamos
Nos livros os registros dos tempos bárbaros
Nascer e morrer incontáveis vezes
Ler e reler os registros eternos
Algumas coisas permanecem as mesmas
Os vedas continuam na mesa

Metano agora reage com os ultravioletas
Cúpulas gigantes se erguem no horizonte
Não ousei ver como são nossos descendentes
Não acreditei em tudo que me veio à mente
Holocausto de um presente que virou passado
Renascer da força vital que nos condensa
Em que corpo e em que forma
Um mero detalhe da artista natureza

Recife,15 de Maio de 2011

domingo, 8 de maio de 2011

314> LAGRIMAS NA CHUVA


No fim de uma bela e triste passagem
Palavras confusas e lábios que silenciam
A luz era fraca
As asas empoeiradas
O ultimo toque e a partida
Na morte de tudo eu acreditei

Toda mulher é uma flor
Todo toque é uma caricia
Esquecem que podem voar

A seda dos lençóis e a pele se misturam
A madrugada segue seus passos
Inesquecíveis marcas sensórias
Passos que flutuam na nevoa
Um terno sorriso que desafia o tempo
Onde posso confiar esse segredo?

A leveza transcende a matéria
Um livro vívido e nunca acabado
Sem fim
A terra se faz incompleta
A saudade se torna bela
E assim se perpetua teu mistério
Nos detalhes e pequenas coisas

Olhando a chuva na janela
Via sua face
Todas as faces
Gotas choravam no vidro
Lembranças marcantes e indefinidas
Um perfume invade o aposento
Cerro meus olhos
Um carrossel girava e ela me via
A face disfarçava alegria
Alguns segundos retorno do êxtase
O tempo não importa
Sempre é tão eterno
Sempre esperarei a brisa soprar jasmim
Nos meus pensamentos e sonhos
Abrindo o portão para ela levar-me
Para longe de tudo que é imperfeito

Recife,8 de Maio de 2011
Dedicado a mulher dentro de todas as mulheres...
Sobre tudo as que ja partiram ou para o "auto-esquecimento" ou para "outra vida".
A vida sempre floresce...

sábado, 7 de maio de 2011

313> A FONTE


Umas vezes ameno outras não
Assim é o som do céu
Assim é o brilho das estrelas
Brilhantes símbolos e brasões
Protetorado dos sonhos

Das antigas paisagens terrenas
Só pedras restaram
Historias e fabulas soterradas
Sob os pés dos herdeiros
Sob o mar tão perfeito

Botões de rosas nos nossos olhos
Correnteza indomada em nossas veias
Caldeirão de desejos e porções de esperança
Alimentam a alma no deserto da vida
O fogo intocável de uma promessa

Olhar nos olhos dizia Lao-Tsé
Penetrar o impenetrável
Permear o impermeável
Ver arder a chama transformadora
Onde toda criação se consuma


Recife,7 de Maio de 2011

312> ANJOS DE PEDRA


Como poderei ignorar aquelas manhãs
Dias tão frios, intangíveis e distantes
Escarpadas montanhas de tristeza criadas
Onde os rios felizes não correm mais
Ao encontro da linha norte do oceano
Estagnam nas não confiáveis águas deste lago

Um anjo dissera-me para dar-te um colar
Sempre manter em guardá-la com zelo
E segui em silencio seus passos
Ate o exílio que enviaste teu coração
Proibiste-te do contato com o mundo
Afastada do verdadeiro amor, te vejo cair
Justamente onde me levantei por ti

Estranho como somos intensos
Eu fazia a melhor parte de você vibrar
Cheia de esperanças em um dia de outono
Por breve tempo a senhora da felicidade
Ate voltar a purgar teu imenso pecado
E a face pesar como anjos de pedra
Dias e noites chorando no vento


Recife, concluido dia 7 de Maio de 2011
Mas bem mais antigo...