ECOS

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Chittorgarh-India

domingo, 16 de maio de 2010

94> UMA BRILHANTE PASSAGEM

A geografia foi a única mudança
Venho de longe para ficar longe
Uma teimosia remota a infância
Traços que não se dissipam
Ladrilhos unidos em fractais
E nada mais obstrui a vida
E nada mais me distancia

Perfeito, doloroso e completo
Um exercício infinito
Saio com a mala cheia de lembranças
Terras distantes em tempos vindouros
Quase sempre olhamos para trás
Esta instabilidade assemelha-se ao universo
Nosso universo

Meu alfa, meu Omega desconhecidos
Castelos de areia todos habitados
Uma vida paralela nos sonhos
Vapores de um passado abençoado
Dissabores moldam os verdadeiros
Existência é efêmera e infinitamente bela
Então que se abrilhante minha passagem !


Recife,29 de abril de 2009

93> A ILHA

Uma flauta doce era o chamado
O trabalho quase completo
Ao sobrevivente boas vindas !
Na construção do novo reinado

Vem de longe e deixa
Vai para perto e leva
O fim do nada
O começo de tudo

Mas o aviso fora dado
Teu mar agitado
Nele fui um naufrago

A ilha agora minha
Desabitada e sozinha
Espera a calmaria


Recife,2 de maio de 2009

92> DANÇA SOLAR

Mas eis que vem um novo sol
A sombras são afastadas
Passos mais largos podem ser dados
Uma forca incessante
Nada podia encarar o brilho
Tome de sua centelha
Abasteça o âmago da vida

Saltos atômicos e vibrações
Nos tambores de sua canção
Abra os braços para receber
Ele e suas lareiras de fusões
Regente de uma grande nação

E surge tudo novo
E em cinzas o antigo
A luz que tudo vê
Os olhos de deus
Mostram então
Tudo que é teu


Recife, 1 de maio de 2009

91> MEU JARDIM CHUVOSO

Aos saltos chegou a manhã
O chão escorregadio
No corredor vazio
Acaso era demais familiar
A precipitação de pensamentos

O orvalho ainda úmido
O sol ainda mudo
Um sentimento impertinente
Escondido e sempre presente

Cautela nos curativos
Prontidão dos sentidos
Assim procede a alma
Quando o amor se cala

O encanto quase se perdeu
Mas ainda falo com as rosas
Apesar do sangue que escorreu...
Guardião de todas belezas,
O espinho que crime cometeu ?


Recife,14 de abril de 2009

90> O ANJO E A CIDADE

Tamanha era a tristeza daquele anjo
Contaminou toda uma cidade
Estava no frio das manhas
Nas almas flutuando perdidas
Invadiu todas enfermarias
Lembrei-me da criança e da piscina
A água paralisante

Otavio Mangabeira, três da manha
A rua toda minha
O sentimento não era mais o mesmo
A realidade visível
Vislumbro o seu tecido invisível
Uso de critérios técnicos
Mas foi uma boa tentativa

Sua atenção volta-se a mim
Como uma luz polarizada
Aquela vibração que volta
Poe a prova tua firmeza
A vontade de perder o controle
Não é bom afrontar um anjo
A menos que se seja outro ...


Salvador, 28 de abril de 2009

89> FIM DAS PRIMAVERAS INCOMPLETAS

Outono te trará a chuva
E tudo que desejas abraçar
Noites enevoadas e enluaradas
Um relâmpago na mente
E um trovão no peito
O descanso almejado
De fato era a tua liberdade
A volta ao mundo dos sonhos
O nosso mundo !

Lembro das primaveras incompletas
E de como você me tomou
Sentiram minha falta os anjos ?
Só mais alguns anos...
Só mais alguns anos...


Recife,22 de abril de 2009

88> PÁSSARO NA JANELA

Um passaro na minha janela
Veio me revelar
Uma nova abertura
E a cor dos cabelos dela
Vem me lembrar
A atual conjectura
Nem mesmo ela sabia
Vai me desvencilhar ?

Hora de esvaziar as ruas
De rever os nascidos
Sob o sinal do sol
De esquecer os vencidos

Um corpo alvo e sem marcas
A mente marcada e obscura
E naquele jogo de cartas
Tudo que fiz foi com ternura.


Recife,20 de abril de 2009

87> DUAS JOIAS DO CÉU

Do outro lado da cidade
Alguém tenta manter-se firme
Escrevendo a infelicidade
Sozinho em seu auto crime
Ninguém sabia de onde ele vinha
Disseram que das luzes do céu
Pelo brilho que tinha ...

Na outra cidade estava ela
Encolhida em seus mistérios
Retratava sua invisível aquarela
Escondia-se nas horas do dia
Às vezes ela o buscava
Às vezes ela o amava
Resguardava-se de tudo que temia

Um belo par !
lindos, altivos, orgulhos
incompletos, solitários e tristes
a natureza os fez assim
diamantes brilhantes, brilhantes...


Recife,15 de abril de 2009

86> DOCE AMARGO

Continue falando ate eu adormecer
E deixar este mundo mais uma vez
Antes do dia que clareia
Verei ainda aquelas crianças
Que se perderam em danças
Depois conte tudo que você fez
Enquanto te faço tranças

Meu amor
Não dizia nada para mim
Ao se entreter em seu mundo
Dizia para si que era o fim
Vendo diante de si o vale profundo

Algumas palavras em atenção
A quem um dia foi só coração
Parabéns por sua obscura maneira
Minha querida companheira
Se a infelicidade te bater a porta,
Olhe se ainda estou a sua volta...


Recife,15 de abril de 2009

85> HISTORIAS DO OLIMPO

Enquanto a porta se fechava
Vi escoar lentamente
O ultimo facho de luz
Projetava uma sombra feminina
Um destino em forma de cruz
Com abafados suspiros de devoção

O que será desse destino ?
A vida atropela o peregrino
Uma matemática precisamente incerta
A maré esta cheia,
O céu carregado,
Meu espírito pesado

Um grito contido no intimo.
O primeiro encontro,
Um capricho de Zeus
O primeiro beijo
Fez ate sorrir Afrodite...

Quem juntou, separou e juntou de novo
Não viu quem te cegou
E fui impelido a continuar
Ainda sonho que a porta se abra
Ainda sinto a vida amarga ...


Recife,13 de abril de 2009

84> TEU NOME *

Dei teu nome a uma flor
Assim posso observá-la
Tuas marés altas
Tuas marés baixas
Assim pude chamá-la

Dei tua alma a uma cor
Então pude roubá-la
Tuas alegrias
Tuas tristezas
Assim posso equilibrá-la

Dei teu corpo ao vento
Assim pude senti-la
Teu cheiro
Teu gosto
Assim posso aquecê-la

Dei teu coração ao tempo
Então posso imortalizá-la
Teu brilho
Tua singularidade
Assim pude amá-la


Recife, 13 de abril de 2099
Singelo, gosto muito .

83> JIHAD

A guerra foi estendida
Chegou aos recantos da minha alma
A seda do tempo se rasgou
Uma forca vem e acalma
Sonhos de existências passadas
Aquela certeza que aflorou
Nas frentes de batalhas preparadas

Os combates na Bavária
O descanso no teto do mundo
Os mais enfurecidos mares
O encontro da nova Índia
Preces junto ao tumulo
A mão que oferta a rosa
Em homenagem aos esquecidos

O passado agora é presente
E juntos teremos o futuro
Sem aberrações em nome da fé
Acorrentados a tamanha ignorância
Julgam-se representantes e escolhidos
Incapazes de lutarem a verdadeira guerra
Aquela contra eles mesmos...


Recife, 12 de abril de 2009

82> SENDA DO ESCOLHIDO

Aqueles seres cheios de esperança
A corda vibrava harmônica
Não esperarei ate a ultima taça
Nunca mais os decepcionarei
Por tudo que um dia amei

Sem um único abraço
Cerro os olhos para sentir
Os redemoinhos de areia
Desconheço o capitulo fracasso
Releio de outra maneira

Quem acendeu as fogueiras ?
Quem era solitário à noite ?
Quem carregou suas bandeiras ?
Os mesmos olhos profundos ...
Os mesmos medos absurdos ...

Não vou olhar para trás
A jornada da alma e longa
E a historia toda se refaz
Nada mais me assombra
Serei a memória mais bela


Recife, 8 de aril de 2009

81> CATACLISMAS

Cincos eras são cobradas
Um sopro apagou tudo
E foram tão protegidos
Uma miríade de agentes
A vida torna-se em luto

Aquela leva foi perdida
Verde ar de sulfeto e metano
A dupla hélice rompida
Mais um desafio
A terra e o astro profano

Historia sepultada em camadas
Lembra-nos o quanto somos efêmeros
Um sonho de contadas alvoradas
Uma brisa tão ligeira
Uma fogueira passageira


Recife, 8 de abril de 2009
Uma lembrença e um aviso ...

80> POR TAINARA




Sempre lembro como devia ser meu amor
Sutil como um dente de leao à brisa
perdido nos teus furacões
No teu mar de Mármara
A semelhença e contraste do nosso sofrer
As vidas divididas no antes e no depois
De um beijo fatalmente velado

No berço de nossas vidas
Lembranças lapidadas no fogo
No reverso de tanto ardor
Um toque tão puro que o ceu se abriu
Para ouvir o amor tres vezes negado
Um exilio biblico que castigava
Os sonhos perdidos neste sentimento

O silêncio duro como ferro
A saudade umida como lagrimas
Mãos atadas e faces separadas
Pai nosso que estas no ceu,
Clareia as nuvens que obstruem a luz
Sopra em cinzas o passado amargo
E que venha a nós o reino do amor !


Recife, 12 de junho de 2009
Também postado na Fabrica de Letras