ECOS

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Chittorgarh-India

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

410> CENTOPEIA

O sal se acumula nos olhos profundos
A agua se esvai da pele abençoada
Sai de mim mesmo
Do que julgava ser meu eu
Agora só observo distante
Minha sombra
Tantas cinzas

Nada é maior ou menor
Dor é dor e azul é azul
A pintura que damos vida
E a tudo pintamos
Vermelho do sangue
O cinza da poeira
O amarelo do medo
E tudo é consumido
E nos distorcemos

Temporalidade que alimenta a mente
Onde estou?
Uma noite de explosões
Uma madrugada de fogo
Outra manhã única
O passado nunca existiu, pois é a lembrança do agora
Uma prisão sem muros
O futuro é o agora que ainda não é
Um poço de ansiedade
Que maravilhosa descoberta

Somos a onda que não sabe que é oceano
O estomago faminto que faz o corpo servi-lo
Vejo-me no céu entre as constelações
Entre relâmpagos e estrelas cadentes
Marte na casa um
Tudo vibra e tudo vem

A centopeia ainda sai da minha boca
Exercito de terracota
Tão ameaçador quanto inerte
Um presente de pandora
Que devolvo as aguas subterrâneas

O vento diz tudo que preciso ouvir
Meus olhos falam o que tem ser dito
Não pergunto mais o porquê
Depois que tudo se iluminou
E no sol a historia do meu criador
Olhar e se ofuscar
Aproximar e se queimar
Mas assim a treva se desfaz
E a alma resplandece 


Recife, 29 de Janeiro de 2014
 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

409> NAVALHA DE OCCAM



E se eu pudesse realizar um sonho teu
O que você pediria ?
E se eu fosse um sol flamejante e imponente
Em que constelação você me veria ?
E se tudo fosse perfeito como um amanhecer
Com o que você se entediaria ?

Os anos passam e as pessoas só passam
Frente a frente com a mesma pergunta
Aquela face não era tudo que se podia ver
E isso é maravilhoso
E eu dei o meu melhor

Ainda sorrio de minha raiva
Alguns odeiam meu sorriso
Eu amo meu amor
Só por amar mesmo
Sem perguntas mais

Segui só para acreditar nas profecias
As cartas não mentem jamais
Os astros falam de coisas amargas
Os tetragramas são misteriosos
E no fim apenas nossas escolhas
Livre arbítrio
Asma da alma
Mar de incerteza
Medos, anseios e horror
Demais para muitos
Demais para o mundo que criamos

Ainda não tenho nome para meu filho
Ainda tenho meus momentos
Ainda imito as crianças
Só quero voltar para casa
Seja onde for
Nos jardins de concreto
Ou nos brilhantes do céu


Natal de 2013, Recife .

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

408> CAMINHOS DO CEU E DA TERRA


Antigas lembranças dos risos de crianças no quintal
Não retardou a celeridade dos nossos destinos
Arvores verdejantes e os bancos de concreto
E o sonho dos gêmeos retorna novamente
A beira do que será nossos túmulos
Tão solitários

Um pesar antigo
Anterior à infância
Silencioso e profundo
O mundo gira lentamente
Descolorido e embotado

Eu que jurei retornar e celebrar
Eu que via tudo tão rápido
Em um carrossel de décadas
O que era distante se aproximou
O que era próximo colapsou
Pois asas foram feitas para voar

Coroada foste na indiferença do mundo
Teu manto pálido e impenetrável
Reinando na dor dos teus segredos
Irrevelados
Caída no frio trono da solidão
Rarefação de todos os sentidos
Na fina chuva do tempo que não volta mais

A montaria aguarda e ainda há luz na estrada
Passos pesados nos pés de mármore
A terra se move abaixo de um céu fixo
Um lago reflete uma imagem distorcida
Em minha nevoa particular
Um encontro inimaginado
De um potencial não realizado
Com uma vibrante fome de vida.


Recife , 18 de Dezembro de 2013

domingo, 29 de setembro de 2013

407> QUASE OUTUBRO



De volta as mesmas historias monocromáticas
Tao lindas agora em um preto e branco belo
Fumaça de cigarro e vapores da alma
Sinto pela tristeza e por todas as lagrimas
Mas recomecei nos mesmos olhos cheios de desejos

Era tudo que se podia sentir
Quando se foge de si mesmo
Era o quanto se podia mentir
Sem se chocar com o vazio

A estrada serpenteava sob a ótica do medo
Em minha mais terna idade eu amei
Conheci as crianças de plástico
Estranhas para quem vem dos anos oitenta
Preocupadas em não desapontar a própria imagem
Agora isto tudo esta acabado
O que você viu foi só o principio
Surpreenda-me com as cores que fui privado

Carros, aviões e as distancias se multiplicam
Ate a mente aproximar tudo
Rostos, ilusões e as gargalhadas ecoam
Ate o ultimo ônibus partir com a alegria
E nas ultimas horas sonhei com a mesma mulher
E isto nem importa mais
E o agosto vem e vai com suas inundações
Mas foi justamente em setembro que pude dizer
Eu perdi para mim
Mas jogarei novamente
É claro 


Recife , 25 de Setembro de 2013
 

406> GAROTO SEM SAPATOS



Eis que os gritos silenciosos não foram em vão
Perto de serenar sinto todo caos que me dei
O gosto doce se foi
Não me importo se é conveniente
Mas no fundo eu gostei de tudo
As desculpas no olhar
A distancia do céu e a proximidade do mar
Olho levemente para trás
Vejo um mundo que desaba
Sorrio e continuo
As vezes sou o garotinho que perdeu os sapatos
Sentando em uma calçada qualquer
Cansado com o folego curto
Ascendo mais um cigarro
Olho para as estrelas
E isto me basta
Tão pouco para muitos
Mais tão imenso para mim

Vejo a grandeza em toda parte
Melodias, heróis de guerra
Sorrisos velados, empatia instantânea
Logo conheci e logo se foi
Para sempre ? Não sei !
Estará presente ? Sempre !
O destino cruza caminhos
E depois os separa
Faz nossas vidas em capítulos
Marcas de fogo na alma
Vitorias e derrotas, fel e mel
A lucidez vai se tornando insana
E a loucura tão espontânea
Agora tudo brilha ao infinito
Onde a ilusão chama-se tempo


Recife, 25 de setembro de 2013